tag:blogger.com,1999:blog-1339908207894952792024-03-13T17:04:44.493-07:00LENDAS EXEMPLARESJosé Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/12998775423781902109noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-133990820789495279.post-80188948900448667532010-09-04T07:41:00.000-07:002010-09-29T04:07:57.944-07:00DOIS RIMANCES<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="color: white; font-family: Calibri;">.</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">Os rimances são histórias muito antigas em verso, cavaleirescas, mais ou menos cortesãs. Podem vir do séc. XV. O primeiro que se transcreve é a outrora célebre <i>Nau Catrineta</i>, o segundo o <i>Rimance de Dona Silvana</i>.<br />
Este género de poemas foi durante muito tempo de tradição oral, talvez ao modo do que se passou com as danças e cantares folclóricos, que também terão começado por ter origem cortesã ou fidalga. Em Portugal, quem primeiro cuidou da sua recolha foi o Cavaleiro de Oliveira, no séc. XVIII; no século seguinte Garrett continuou a tarefa, como a continuou mais tarde Teófilo Braga e outros. A ideia inicial da recolha foi romântica, como o aconteceu na Alemanha com os irmãos Grimm.<br />
Os dois são poemas moralizantes e em ambos encontramos o que alguns chamam o maravilhoso cristão, isto é, a intervenção sobrenatural, e daí se enquadrarem na temática religiosa. No primeiro essa intervenção é clara, no segundo quase só sugerida. É interessante notar que a <i>Nau Catrineta </i>envia para a época das Descobertas marítimas.<br />
<br />
<br />
<span style="color: #b45f06;"><strong>NAU CATRINETA</strong></span><br />
<span style="color: white;">.</span></span><br />
<span style="font-family: Calibri;">Lá vem a Nau Catrineta,<br />
Que tem muito que contar!<br />
Ouvide, agora, senhores,<br />
Uma história de pasmar.<br />
<br />
Passava mais de ano e dia,<br />
Que iam na volta do mar.<br />
Deitaram sola de molho,<br />
Para o outro dia jantar.<br />
<br />
Mas a sola era tão rija,<br />
Que a não puderam tragar.<br />
Deitaram sortes ao fundo,<br />
Qual se havia de matar.<br />
<br />
Logo a sorte foi cair<br />
No capitão general.<br />
- Sobe, sobe, marujinho,<br />
Àquele tope real,<br />
<br />
Olha se enxergas Espanha,<br />
Areias de Portugal.<br />
- Alvíssaras, capitão,<br />
Meu capitão-general!<br />
<br />
Já vejo terras de Espanha,<br />
Areias de Portugal.<br />
Mais enxergo três meninas,<br />
Debaixo de um laranjal.<br />
<br />
Uma sentada a coser,<br />
Outra na roca a fiar,<br />
A mais formosa de todas,<br />
está no meio a chorar.<br />
<br />
- Todas três são minhas filhas,<br />
Oh, quem mas dera abraçar!<br />
A mais formosa de todas<br />
Contigo a hei-de casar.<br />
<br />
- A vossa filha não quero,<br />
Que vos custou a criar.<br />
- Dar-te-ei tanto dinheiro<br />
Que o não possas contar.<br />
<br />
- Não quero o vosso dinheiro<br />
Pois vos custou a ganhar.<br />
- Dou-te o meu cavalo branco,<br />
Que nunca houve outro igual.<br />
<br />
- Guardai o vosso cavalo,<br />
Que vos custou a ensinar.<br />
- Dar-te-ei a Nau Catrineta,<br />
para nela navegar.<br />
<br />
- Não quero a Nau Catrineta,<br />
Que a não sei governar.<br />
- Que queres tu, meu gajeiro,<br />
Que alvíssaras te hei-de dar?<br />
<br />
- Capitão, quero a tua alma,<br />
Para comigo a levar.<br />
- Renego de ti, demónio,<br />
Que me estavas a tentar.<br />
<br />
A minha alma é só de Deus,<br />
O corpo dou-o eu ao mar.<br />
Tomou-o um anjo nos braços,<br />
Não no deixou afogar.<br />
<br />
Deu um estouro o demónio,<br />
Acalmaram vento e mar.<br />
E à noite a Nau Catrineta,<br />
Estava em terra a varar.<br />
<br />
Quando se fala de “terras de Espanha”, entende-se da Península Ibérica. Neste sentido antigo, geograficamente, mesmo que não politicamente, Portugal também era Espanha.<br />
Como se viu, o cavaleiro foi sujeito a uma tentação grave, mas venceu-a, preferindo a morte a ceder às propostas diabólicas. Vem mesmo um anjo dar-lhe uma ajuda no momento mais grave.<br />
A Dona Silvana que se seguer foi também tema muito popular. Vamos ver:</span><br />
<span style="color: white; font-family: Calibri;">.</span><br />
<span style="color: white; font-family: Calibri;">.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: #b45f06;"><strong>RIMANCE DE DONA SILVANA</strong></span><br />
<br />
Indo a Dona Silvana<br />
Pelo corredor acima<br />
A tocar sua guitarra<br />
(Oh, que tão bem a tangia!...)<br />
Foi acordando seus pais<br />
Que sua sesta dormiam.<br />
<br />
— Tu que tens, Dona Silvana,<br />
Tu que tens, ó filha minha?<br />
— Ver minhas irmãs casadas<br />
Vestidas à maravilha...<br />
Eu, por ser a mais fermosa,<br />
Por que razão ficaria?<br />
<br />
— Não tenho com quem te case,<br />
Senão bem te casaria...<br />
Só se for conde Alberto...<br />
(É casado e tem família...)<br />
— Mande-mo aqui chamar<br />
De sua parte e da minha.<br />
Quero falar com ele<br />
Dentro de uma Ave-Maria.<br />
<br />
— Aqui estou, real senhor.<br />
Que quer vossa senhoria?<br />
— Quero que mates viscondessa<br />
Pra casar com filha minha.<br />
— Viscondessa não na mato<br />
Que a morte não lhe é merecida.<br />
— Mata, mata, conde Alberto,<br />
Senão eu tiro-te a vida.<br />
<br />
Indo o conde para casa<br />
Mais triste que o mesmo dia,<br />
Mandou fechar as janelas<br />
Pra não ver que era dia;<br />
Mandou pôr a sua mesa<br />
Para fazer que comia.<br />
As lágrimas eram tantas,<br />
Já pela mesa corriam.<br />
<br />
— Tu que tens, ó conde Alberto,<br />
Tu que tens, ó meu amor?<br />
— Manda o Rei que te matasse,<br />
Manda o Rei e meu senhor.<br />
Só se fosses pra um convento<br />
Como freira recolhida...<br />
— Darias-me o pão por onça<br />
E a água por medida...<br />
<br />
Ainda a palavra não era dita,<br />
Já o Rei batia à porta:<br />
Que lhe mandasse a cabeça,<br />
Que era com pena de morte.<br />
Que lha não desse trocada,<br />
Que ele bem na conhecia.<br />
<br />
— Adeus, moços, adeus, moças,<br />
Adeus, espelho onde me eu via!<br />
Adeus, jardins de flores,<br />
Onde eu me advertia!<br />
Anda cá, ó meu menino,<br />
Que te quero abraçar!<br />
Anda cá, á meu menino,<br />
Que te quero dar de mamar!<br />
<br />
Mama, mama, meu menino,<br />
Este leite de paixão:<br />
Hoje, contigo nos braços,<br />
Amanhã, já no caixão.<br />
Mama, mama, meu menino,<br />
Este leite de amargura:<br />
Hoje, contigo nos braços,<br />
Amanhã, na sepultura.<br />
<br />
Toca o sino no palácio...<br />
— Ó mamã, quem morreria?<br />
— Morreu a Dona Silvana<br />
Pela traição que fazia:<br />
Descasar os bem casados,<br />
Coisa que Deus não queria.<br />
<br />
A intervenção sobrenatural não é tão clara como na <i>Nau Catrineta</i>, mas a Dona Silvana morre “Pela traição que fazia: / Descasar os bem casados, / Coisa que Deus não queria”. Deus impediu que se consumasse essa traição, que levaria à morte a esposa do Conde Alberto.<br />
Este Conde Alberto da lenda, ao menos na imaginação popular, identificar-se-ia ao homónimo que aparecia no Drama de Herodes dos Bailes de Reis<br />
Esta história de Dona Silvana recolhemo-la há muitos anos de fontes orais. </span></div></div>José Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/12998775423781902109noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-133990820789495279.post-64177975891734804192008-11-17T02:12:00.000-08:002012-05-09T02:32:39.727-07:00Lendas exemplares<strong><span style="font-size: 130%;">O galo de Barcelos</span></strong><br />
<span style="color: #ff6600;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em tempos muito recuado, as pessoas de Barcelos andavam um vez alarmadas com um crime cujo autor se não descobria. As suspeitas vieram depois a cair sobre certo galego, que foi acusado como autor dele. As autoridades prenderam-no e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém o acreditou.</div>
<div style="text-align: justify;">
E não aceitavam que ele se dirigisse para Santiago de Compostela em cumprimento de uma promessa, como era tradição na época, e fosse devoto fiel de Santiago e da Virgem Santíssima. Então condenaram-no à forca.</div>
<a href="http://4.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMqzY2FkbI/AAAAAAAAAWY/HeMrcfUiHio/s1600-h/Galo+de+Barcelos.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5387196641596248498" src="http://4.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMqzY2FkbI/AAAAAAAAAWY/HeMrcfUiHio/s400/Galo+de+Barcelos.jpg" style="cursor: pointer; float: left; height: 309px; margin: 0px 10px 10px 0px; text-align: justify; width: 206px;" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Ele pediu então que o levassem à presença do Juiz. Qunado se viu junto do magistrado, que nesse momento se banqueteava com amigos, o galego reafirmou a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que se encontrava no centro de uma grande mesa, e declarou:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Tão certo é eu estar inocente como esse galo cantar quando me enforcarem!</div>
<div style="text-align: justify;">
Houve gargalhadas e risos, mas, pelo sim e pelo não, ninguém tocou no galo.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que parecia impossível aconteceu. Quando o peregrino ia ser enforcado, o galo ergueu-se na mesa e cantou! <br />
Ninguém mais duvidou da inocência do condenado. O Juiz corre à forca e, com espanto, vê-o de corda ao pescoço, mas o nó lasso, impedindo o estrangulamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mandou-o imediatamente soltar e ir em paz.<a href="http://3.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/TDXy1uApZDI/AAAAAAAABDs/d1YOKqmD5NU/s1600/DSCF2297.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400px" src="http://3.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/TDXy1uApZDI/AAAAAAAABDs/d1YOKqmD5NU/s400/DSCF2297.JPG" width="287px" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Volvidos alguns anos, voltou este peregrino a Barcelos e fez erguer um monumento em louvor da Virgem e de Santiago.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><b>Monumento barcelense do séc. XIV relativo à lenda do Galo de Barcelos (vê-se o galo aos pés da cruz). Deve ser, no seu género, o monumento português mais antigo a assinalar a prática da forca.</b></span><br />
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<strong>O<span style="font-size: 130%;"> monge e o passarinho</span></strong></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um monge cantava as matinas com os outros religiosos do seu mosteiro, quando chegaram àquilo do salmo onde se diz que mil anos à vista de Deus são como o dia de ontem que já passou; admirou-se ele grandemente e começou a imaginar como aquilo podia ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
Acabadas as matinas, ficou em oração, como tinha de costume, e pediu afectuosamente a Nosso Senhor se servisse de lhe dar inteligência daquele verso. Apareceu-lhe ali no coro um passarinho que, cantando suavissimamente, andava diante dele dando voltas de uma para a outra parte, e deste modo o foi levando pouco a pouco até um bosque que estava junto do mosteiro, e ali fez seu assento sobre uma árvore, e o servo de Deus se pôs debaixo dela a ouvir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dali a um breve intervalo (conforme o monge julgava) tomou o voo e desapareceu com grande mágoa do servo de Deus, o qual dizia, mui sentido:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ó passarinho da minha alma, para onde te foste tão depressa?</div>
<div style="text-align: justify;">
Esperou. Como viu que não tornava, recolheu-se para o mosteiro, parecendo-lhe que aquela mesma madrugada, depois das matinas, tinha saído dele. Chegando ao convento, achou tapada a porta que dantes costumava servir e aberta outra de novo em outra parte. Perguntou-lhe o porteiro quem era e a quem buscava. Respondeu:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Eu sou o sacristão, que poucas horas há saí de casa, e agora torno, e tudo acho mudado!</div>
<div style="text-align: justify;">
Perguntando também pelos nomes do abade, e do prior, e procurador, ele lhos nomeou, admirando-se muito de que o não deixasse entrar no convento, e de que se mostrava não se lembrar daqueles nomes. Disse-lhe que o levasse ao abade; e, posto em sua presença, não se conheceram um ao outro, nem o bom monge sabia que dissesse ou fizesse, mais que estar confuso e maravilhado de tão grande novidade.</div>
<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5387199130475736290" src="http://3.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMtEQpMrOI/AAAAAAAAAWg/aTai9CMDMaY/s320/155.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: justify; width: 310px;" /><br />
<div style="text-align: justify;">
O abade então, alumiado por Deus, mandou vir os anais e histórias da Ordem, onde, buscando, e achando os nomes que o monge apontava, se veio a averiguar com toda a clareza que eram passados mais de trezentos anos desde que o monge saíra do mosteiro até que tornara a ele.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Então este contou o que lhe havia sucedido e os religiosos o aceitaram como a irmão seu do mesmo hábito. E ele, considerando na grandeza dos bens eternos e louvando a Deus por tão grande maravilha, pediu os sacramentos e brevemente passou desta vida, com grande paz em o Senhor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Estoutra lenda passa por ser também barcelense, do Mosteiro de Vilar de Frades. A verdade porém é que já Afonso X a tratou nas suas <a href="http://brassy.club.fr/PartMed/Cantigas/CSMtext/c103.html">Cantigas de Santa Maria</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<strong><span style="font-size: 130%;">A abadessa Berengária</span></strong></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A certa altura da história do Convento de Santa Clara de Vila do Conde, havia bastante relaxamento na vida religiosa das monjas. Orgulhosas, recusavam os trabalhos, davam-se a falatórios inconvenientes e eram pouco zelosas em acorrer às horas canónicas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas havia uma excepção, a irmã Berengária. Humilde, cumpridora, imitava os melhores exemplos das passadas Clarissas, não se furtando às tarefas mais humildes, que executava com alegria e sentido fraterno.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aconteceu entretanto que a abadessa morreu e foi preciso eleger a sucessora. Havia muitas interessadas no cargo, que dava autoridade e prestígio. Quem não pensava nisso era sem dúvida a solícita Berengária.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na hora da eleição, cada uma das eleitoras, para que as amigas não acedessem ao abadessado, votou do modo que menos pudesse prestar – na Brengária – pensando assim protelar a decisão, ao entregar o voto a uma incapaz.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, quando a irmã Berengária verificou que tinha sido eleita segundo todas as regras, decidiu aceitar o lugar. Não o tinha pedido, mas não o recusava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMuejBnulI/AAAAAAAAAWo/lyfanilFL2U/s1600/800px-Vila_do_Conde_4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5387200681598237266" src="http://3.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMuejBnulI/AAAAAAAAAWo/lyfanilFL2U/s320/800px-Vila_do_Conde_4.jpg" style="display: block; height: 183px; margin-top: 0px; text-align: justify; width: 320px;" /></a></div>
As outras monjas mofavam e recusavam-se a obedecer-lhe: que a votação não fora a sério.</div>
<div style="text-align: justify;">
Perante a rebeldia manifestada, a nova abadessa foi firme e ousada: mandou que as suas antecessoras, que ali jaziam sepultadas, viessem prestar-lhe a homenagem de obediência que as freiras vivas recusavam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eis então que as antigas abadessas se erguem das sepulturas e ali se mostram em atitude respeitosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
O resultado não podia ser outro: as monjas arrependem-se da sua soberba e acatam a autoridade da nova abadessa.<br />
<br />
<strong><span style="font-size: 130%;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-size: 130%;"></span></strong><br />
<strong><span style="font-size: 130%;"></span></strong><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: medium; font-weight: normal;"><strong><span style="font-size: 130%;">A Menina do Merendeiro</span></strong></span></div>
</div>
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Havia uma vez uma freira do Mosteiro de Santa Clara muito devota do Menino Jesus. As outras freiras diziam-lhe para não rezar tanto ao Menino Jesus, mas sim a Deus Pai. Mas ela não ligava e continuava como dantes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Certo dia pediu à abadessa para levar a merenda dela para uma visita que tinha na cela. A abadessa, surpreendida, perguntou quem era essa visita. Então ela confessou que era o Menino Jesus. A abadessa autorizou.</div>
<div style="text-align: justify;">
Isto sucedeu várias vezes, até que um dia a abadessa foi ver quem realmente era. Viu um menino e pensou que seria filho da monja, a quem já chamavam a Menina do Merendeiro. Desconfiada, pediu a outras duas freiras idosas que fossem observar. As três entraram na cela, mas já não encontraram o menino.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia que as mesmas estavam na igreja a rezar repararam que o Menino Jesus desaparecera do altar da Sagrada Família. Foram então ter com a Menina do Merendeiro e acusaram-na de o ter roubado. Ela disse que não, e as outras três exigiram que fosse com elas ver o altar. Ela respondeu que, se quisessem, ia, mas não adiantava porque o Menino estaria lá. E assim aconteceu: o Menino voltara.</div>
<div style="text-align: justify;">
As outras três freiras pediram então perdão a Deus e à Menina do Merendeiro, que não ficou zangada e foi com elas rezar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<strong><span style="font-size: 130%;">S. Pedro de Rates</span></strong></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: white;">.</span><br />
Conta-se que S. Pedro de Rates foi convertido ao Cristianismo pelo Apóstolo S. Tiago aquando da sua peregrinação pela Hispânia, no século I. Durante essa viagem, cumprindo a missão de difundir a mensagem de Cristo, morto e ressuscitado havia pouco tempo, foi deixando sementes que germinaram e fortaleceram as raízes da Igreja, num império hostil à nova Fé. Pedro seria um dos sete varões ordenados pelo Apóstolo, em Santiago de Compostela, e nomeado Bispo de Braga.</div>
<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5387203096200517170" src="http://4.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMwrGHqljI/AAAAAAAAAWw/YXGH3uhvrG4/s320/142847668_f1b9ab7e6c_b.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 212px; margin: 0px auto 10px; text-align: justify; width: 320px;" /><br />
<div style="text-align: justify;">
Na lenda, o episódio que fez dele um mártir teve origem num milagre: solicitado para curar de doença fatal a filha de um poderoso pagão, S. Pedro de Rates conseguiu-lhe tal dádiva. Reconhecida, a jovem converteu-se ao Cristianismo, o que causou a ira do pai e consequente desejo de vingança. Avisado, o Santo refugiou-se em Rates, mas foi aí encontrado e morto. Ficou sepultado sob as ruínas da pequena capela onde tudo aconteceu, que foi destruída.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Séculos mais tarde, do alto do monte onde se refugiara, o eremita S. Félix vislumbrava uma luz na escuridão. Guiado pela curiosidade e pela convicção de um chamamento divino, dirigiu-se ao local, procedeu à remoção das pedras e encontrou a causa de tal clarão: o corpo de S. Pedro de Rates.</div>
<div style="text-align: justify;">
S. Pedro de Rates foi padroeiro da Diocese de Braga até 1985, quando foi substituído por <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_de_Braga">S. Martinho de Dume</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<strong><span style="font-size: 130%;">Maria Fidalga</span></strong></div>
<div style="text-align: justify;">
Certo fidalgo de Arcos de Valdevez andava intrigado com o desaparecimento do anel de sua mulher, e já lhe nasciam suspeitas sobre a sua fidelidade. Como a fama de Maria Fidalga lá chegara, vem então o fidalgo, acompanhado de um criado preto, em demanda do monte d’Assaia, em Viatodos (Barcelos), para deslindar o caso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Chegado aí, é recebido pela bruxa e informado de que só poderia regressar na manhã seguinte, uma vez que ela apenas à meia-noite receberia do próprio Diabo a informação desejada.</div>
<div style="text-align: justify;">
O fidalgo sujeita-se e a bruxa prepara-lhe dormida e aguarda a hora da entrevista. Tem então lugar o oráculo. O Diabo informa-a de que o anel está no bucho do «ruço», o porco do fidalgo, mas proíbe-a de lho revelar; a ele, confirmar-lhe-ia as suspeitas sobre a infidelidade da esposa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por artes do próprio Diabo, porém, o criado negro, para quem o agasalho contra o frio da noite fora apenas a proximidade da lareira, por uma fresta do tabuado da cozinha, presenciou a combinação.</div>
<img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5387205339924747346" src="http://1.bp.blogspot.com/_fsXHA6WReKE/SsMytspNVFI/AAAAAAAAAW4/JTI43MLzU4E/s320/1972057448_0b58ec6e05_o.jpg" style="cursor: pointer; display: block; height: 319px; margin: 0px auto 10px; text-align: justify; width: 320px;" /><br />
<div style="text-align: justify;">
Na manhã seguinte, a bruxa comunica ao fidalgo a tramóia. O fidalgo parte a galope para vingar a afronta. O negro, por sua vez, lança-se no seu encalço para o prevenir do logro e salvar a ama; depois de muito esforço, consegue transmitir-lhe o que escutara. Furibundo, sentencia o fidalgo:</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
— Mato o porco, mas mato-te a ti com ela se não encontrar lá o anel.</div>
<div style="text-align: justify;">
O negro confirma o que ouvira. Chegados a Valdevez, esventram o porco e o anel aparece. Então o fidalgo regressa ao Assaia. Uma vez aqui, prende Maria Fidalga ao rabo do cavalo e arrasta-a até à morte pelas lajes da encosta.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Diabo traíra a sua aliada.<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">Os quatro ladrões</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Esta história foi escrita há talvez 600 anos; mas actualizámos-lhe a escrita. É a antepassado d’</i>O<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>Tesouro<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> de Eça de Queirós.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
Contam as histórias antigas que em Roma havia quatro ladrões. E andando um noite a furtar, sentiram a justiça e fugiram e esconderam-se numa cova. E quando a luz veio, acharam-se numa casa de abóbada muito formosa. E acharam nela um túmulo de mármore muito formoso. E disseram entre si:</div>
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— Este túmulo foi dalgum homem nobre e rico. Abramo-lo e vejamos se achamos nele algum bem; porque noutros tempos costumavam enterrar os grandes homens com presentes e coisas de grande preço.</div>
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Então abriram o túmulo e acharam-no cheio de ouro e de prata e de pedras preciosas e de vasos e de taças de ouro muito formosas. E entre elas estava uma taça muito formosa e maior que todas outras. Quando isto acharam, disseram entre si: </div>
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— Agora estamos ricos e com sorte e seremos ricos para sempre, nós e nossos filhos; mas será bem que algum de nós vá à vila buscar comer.</div>
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E cada um se escusava, dizendo que era conhecido na cidade e temia que o enforcassem. Por fim disse um deles:</div>
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— Se me vós derdes aquela taça maior e melhor, eu vou buscar o alimento.</div>
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E os outros aceitaram, e ele foi e trouxe que comer. E indo pelo caminho levando a comida, cuidou como poria nela veneno, de modo que, comendo-a os seus companheiros, morreriam e ficaria para ele tudo o que acharam no túmulo. </div>
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E os três ladrões que ficaram, enquanto ele foi, falaram entre si e disseram:</div>
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— Aquele era nosso companheiro, mas não quis ir buscar a comida sem que lhe déssemos a taça melhor. Matemo-lo e ficará para nós toda a fortuna.</div>
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E disse um deles:</div>
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— Como o mataremos sem perigo, pois ele é mais valente do que nós?</div>
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Respondeu o outro e disse:</div>
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— Quando ele vier, digamos-lhe que entre dentro e tome a taça; e quando entrar, tiremos o pau que segura as coberturas e elas cairão sobre ele e morrerá.</div>
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E quando veio o outro fizeram assim e logo ficou morto. E eles disseram:</div>
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— Comamos e bebamos e depois dividiremos tudo entre nós. </div>
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E começarem a comer o que o outro trouxera, e morreram por causa do veneno.</div>
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<strong><span style="font-size: 85%;">Imagens de cima para baixo: Galo de Barcelos, Igrejas dos Mosteiros de Vilar de Frades, S. Pedro de Rates e de Santa Clara de Vila do Conde e painel com duas quadras de </span></strong><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Matias_de_Lima"><strong><span style="font-size: 85%;">Matias Lima</span></strong></a><strong><span style="font-size: 85%;"> em Viatodos.</span></strong></div>José Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/12998775423781902109noreply@blogger.com0